A cesta do café da manhã disparou: as frutas acumulam alta de 67,72%, o queijo subiu 50,28% no período, o pão aumentou 36% e nem mesmo o café passou incólume desse movimento, com alta de 39% no período.
A disparada de preços vai bem além da primeira refeição do dia. Economistas ouvidos pelo jornal GLOBO afirmam que o aumento dos custos de produção, a redução da área plantada e os efeitos adversos do fenômeno La Niña no primeiro trimestre tendem a se refletir em preços mais altos na tradicional combinação de arroz e feijão.
No caso de proteínas, como frango, ovo e carne, avaliam que não há espaço para grandes quedas. Além da questão climática, que afeta a pecuária desde o ano passado, os preços seguem pressionados em razão dos custos e de restrições na produção em decorrência do surto de gripe aviária.
— Dá para ver a pressão que a alimentação vem exercendo sobre o orçamento familiar, porque esse aumento vem se acumulando e diminuindo o poder de compra — afirma André Braz, economista e coordenador dos Índices de Preços do Ibre/FGV.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/i/NlX1LISrW6MtBuD4R69Q/inflacao-alimentos-online.jpg?resize=648%2C2713&ssl=1)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/i/NlX1LISrW6MtBuD4R69Q/inflacao-alimentos-online.jpg?resize=648%2C2713&ssl=1)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/i/NlX1LISrW6MtBuD4R69Q/inflacao-alimentos-online.jpg?resize=648%2C2713&ssl=1)
O arroz subiu 59,26% desde março de 2020. No mesmo período, o feijão preto teve alta de 39,91%. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de arroz, cuja safra já começou, deverá ser a menor em 25 anos.
A expectativa é de uma safra de 10,38 milhões de toneladas no período de 2022/2023, uma queda de 3,8% em relação à temporada passada. Já o feijão deve ter volume de produção 2,4% menor que o de 2021/2022, somando 2,9 milhões de toneladas.
— A inflação de alimentos deu uma melhorada, mas não devemos ter preços em níveis pré-pandemia. Temos um cenário de preços de commodities, que são grandes balizadores dos preços de alimentos, que seguem altos, e ainda continuarão em patamar elevado. Não vamos voltar a ter preços como os que a gente tinha em 2019 — afirma Gabriela Faria, analista da Tendências.
Nos cálculos da consultoria, alguns preços ao produtor vão subir quase 10% em média este ano. O arroz deve ficar 9,7% mais caro, seguido pelo ovo, com alta de 7,4% e pelo feijão, com avanço de 2,8%.
O preço cobrado ao produtor acaba servindo como um sinal do que pode chegar ao consumidor final, já que suas variações são geralmente repassadas para as gôndolas.
Até mesmo um menu simples, como macarrão com salsicha, passou por uma escalada de preços de dois dígitos desde o início da pandemia. O macarrão subiu 40,74% e a salsicha teve alta de 34,5%.
Segundo dados do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), o preço por saca de feijão carioca ao produtor ficou em US$ 84 em meados de março. É o maior patamar desde junho de 2016.
Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe, avalia a situação como preocupante e diz que a entidade tem buscado incentivar o aumento da área de plantio porque o produtor tem preferido a soja, em razão da maior produtividade e previsibilidade. A lavoura de 2022/2023 do feijão deve ter a menor área plantada dos últimos 30 anos.
— A produtividade da soja aumentou e a do feijão teve evolução muito pequena nos últimos anos. A pressão sobre a inflação deve perdurar ainda pelos próximos 45 dias diante do aumento do custo ao produtor.