O volume de investimentos chineses no Brasil despencou 78% em relação ao ano anterior, a 1,3 bilhão de dólares, menor patamar registrado em 13 anos, de acordo com estudo publicado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), com redução de projetos que envolvem grandes volumes de recursos. De 2021 para 2022, o país saiu do topo da lista de destinos que mais receberam investimentos chineses no mundo para a nona posição, aponta o relatório.
Também houve uma piora na taxa de efetivação dos empreendimentos chineses, em um ano em que o investimento total da China no exterior registrou alta, ainda que modesta. O documento, elaborado pelo diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, Tulio Cariello, destaca que a diminuição dos fluxos chineses para o país ocorreu em meio a um forte crescimento dos investimentos estrangeiros como um todo no Brasil, que saltaram 95% no ano e alcançaram 90,6 bilhões de dólares, segundo o Banco Central — maior nível em dez anos.
O relatório afirma que a retração observada nos aportes chineses não necessariamente reflete um desinteresse da China em investir no país, sendo resultado da não efetivação de algumas poucas iniciativas nas áreas de mineração e energia que representavam grande volume de recursos. Em 2022, o volume de investimentos chineses anunciado foi de 4,7 bilhões de dólares, mas apenas 27% foi de fato realizado.
No ano anterior, a totalidade dos 5,9 bilhões de dólares anunciados acabou confirmada. “A diferença de valor entre projetos anunciados e confirmados é explicada pelo fato de alguns investimentos particularmente intensivos em capital necessitarem de uma série de licenças para o início de suas operações, o que eventualmente pode adiar sua execução”, afirma o estudo.
É citado como exemplo um investimento de 2,1 bilhões de dólares anunciado em 2022 pela companhia Honbridge e que não foi efetivado no mesmo ano em razão da necessidade de obtenção de licença ambiental prévia para mineração. Cariello afirmou que a queda percentual também é explicada pelo que chamou de uma distorção na base comparativa interanual, já que em 2021 houve dois projetos na área de petróleo que somaram quase 5 bilhões de dólares e levaram o setor a responder por 85% dos aportes chineses no Brasil naquele ano.
O pico de investimentos chineses no Brasil foi registrado em 2010, com a entrada de 13 bilhões de dólares. De 2007, início da série do CEBC, até 2009 os fluxos ficavam abaixo de 500 milhões de dólares. Em 2019, o valor foi de 5,6 bilhões de dólares e, em 2020, com a pandemia, o fluxo caiu a 1,9 bilhão de dólares.
O documento argumenta que, apesar da queda do valor investido, o número de projetos anunciados no país chegou a 40 no ano passado, segundo maior da série, atrás apenas das 41 iniciativas observadas em 2018. Indicadores apontando desaceleração da economia chinesa, em meio a crises recentes de grandes empresas imobiliárias do país, têm gerado preocupação entre autoridades de diversos países, incluindo Brasil, por receio de o gigante asiático estar perdendo a capacidade de crescer de maneira sustentada e robusta.