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    BTG projeta cenário catastrófico em 2023 e alerta para dólar acima de R$ 6

    O banco BTG Pactual deslocou sua previsão de ciclo de corte de juros pelo Banco Central para um horizonte mais distante e menor em 2023. Agora, o banco prevê reduções a partir do quarto trimestre do próximo ano, levando a Selic dos atuais 13,75% ao ano para 12,75%. Antes, o BTG via a taxa a 11% no fim de 2023.

    A forte expansão fiscal prevista para o início do novo governo Lula (PT), aliada ao risco de um cenário inflacionário maior, justifica a revisão da Selic, o que também prejudicará a atividade econômica, levando a um crescimento econômico fraco de 0,7% em 2023 e 0,9% em 2024, aponta Mansueto Almeida.

    “Esses números devem limitar o crescimento da demanda e impactar negativamente o investimento privado, o mercado de trabalho e os balanços das empresas mais sensíveis à originação de crédito”, afirma.

    “O PIB deve crescer 3% em 2022, com a taxa de desemprego prevista fechando o ano em torno de 8%, o menor nível desde 2015. Do lado fiscal, o superávit primário ultrapassará 1% do PIB, marcando o segundo ano consecutivo de superávit. Enquanto isso, a dívida bruta deve fechar o ano abaixo de 74% do PIB, o menor nível desde 2017”, estima. O BTG ajustou ainda sua projeção para inflação em 2022 de 5,8% para 5,6%.

    Apesar das boas notícias finalizando 2022, o ano também se encerra com maior incerteza do que o mercado precificou durante a eleição presidencial, o que é algo atípico, dado que a incerteza econômica geralmente diminui após as eleições, observa Mansueto. O maior risco, segundo ele, é a trajetória do déficit fiscal e seu impacto sobre dívida pública, taxas de juros e inflação.

    A recém-aprovada PEC da Transição ou PEC do Rombo permitirá um aumento de aproximadamente R$ 170 bilhões dos gastos federais, “levando a uma deterioração significativa do cenário fiscal à frente”, diz o BTG. Foi para compensar parcialmente isso que o banco incorporou em seu cenário-base a reintegração dos impostos federais sobre combustíveis. Com isso, a previsão para o o resultado primário do governo central em 2023 passou de um déficit de R$ 100 bilhões para um rombo de R$ 123 bilhões, equivalente a 1,2% do PIB, empurrando a dívida bruta para 78,2% do PIB no fim de 2023.

    O BTG reduziu sua projeção para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2023 de 0,9% para 0,7%, devido ao agravamento das condições financeiras.

    O banco elevou também sua projeção do DÓLAR no fim de 2023 de R$ 4,90 para R$ 5,30 podendo chegar a R$ 6 destacando o risco de um real mais fraco.

    O cenário-base do BTG assume que no próximo ano o governo eleito irá implementar um novo regime fiscal para substituir o teto de gastos e adicionar medidas que apontem para a sustentabilidade das contas públicas.

    A falta de sinalização clara quanto ao ajuste fiscal do novo governo tem gerado riscos desnecessários, com alta volatilidade nos preços dos ativos e um cenário mais desafiador para o financiamento de novos investimentos, afirma Mansueto. “Além disso, a maior incerteza doméstica tem diminuído o impacto positivo do maior otimismo dos investidores estrangeiros quanto aos impactos da reabertura da China na economia brasileira”, observa.

    Em um cenário de estresse em que o governo não implemente medidas que gerem uma trajetória sustentável para a dívida pública, o real atingiria um patamar acima de R$ 6 por dólar, alerta a equipe do BTG.

    Em síntese, diz Mansueto, apesar de um 2022 melhor do que o esperado, dados de mercado e números próprios apontam para um país iniciando um novo governo com grande incerteza quanto aos rumos do pauta econômica, o que representa um cenário adverso de mercado, com a curva de juros próxima a 13% ao ano para os próximos dez anos, fraco crescimento econômico em 2023 e 2024 e a perspectiva de queda do investimento privado.

    “No entanto, esse é apenas um recorte no tempo e pode mudar com uma agenda de reformas econômicas, controle de gastos públicos e maior clareza sobre uma regra fiscal que sinalize estabilidade da dívida pública a médio prazo”, afirma Mansueto.

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